Postagens populares

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Contaminação por necrochorume afeta subsolo de cemitérios em São Paulo


Líquido da decomposição de cadáveres se infiltra nos terrenos e pode até mesmo atingir lençol freático; MP tem cobrado explicações.
O subsolo de dois grandes cemitérios de São Paulo, Vila Formosa, na zona leste, e Vila Nova Cachoeirinha, na zona norte, está contaminado por necrochorume, líquido que vaza na decomposição dos cadáveres. Esse líquido começa a ser eliminado após um ano da morte e pode transmitir doenças, dada a sua perigosa carga biológica, de vírus e bactérias.
Em geral, cada corpo produz diariamente 200 mililitros de necrochorume, por pelo menos seis meses. Trata-se de um escoamento viscoso, acinzentado, e que, com a chuva, pode atingir o lençol de água subterrânea de pequena profundidade e outras regiões próximas aos cemitérios. Reportagem de Eduardo Reina, O Estado de S.Paulo .
De acordo com a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), ligada à Secretaria Estadual do Meio Ambiente, as áreas onde estão os cemitérios de Vila Formosa e Vila Nova Cachoeirinha estão classificadas como suspeitas de contaminação desde 2006. A Cetesb aguarda que o Serviço Funerário Municipal envie estudos complementares para confirmar essa suspeita e o grau de contaminação.
A decomposição que provoca o vazamento do líquido chamado necrochorume começa cerca de 30 dias após o enterro. O necrochorume é formado por 60% de água, 30% de sais minerais e 10% de substâncias orgânicas, duas delas altamente tóxicas: a putrescina e a cadaverina. Os micro-organismos liberados na decomposição dos corpos podem transmitir doenças por meio de contato com água contaminada ou ingestão dela. Entre as enfermidades, estão hepatite A, tuberculose e escarlatina.
Infiltração. Na Vila Formosa e na Vila Nova Cachoeirinha, o líquido que vazou da decomposição de corpos para o solo se infiltrou na terra até chegar ao lençol freático e contaminá-lo com bactérias e vírus, principalmente em camadas superficiais. Estudos pedidos pela Cetesb e pelo Ministério Público é que determinarão quais são os agentes contaminantes.
O Serviço Funerário informou que os sepultamentos não são feitos em áreas com lençol freático raso, na Vila Formosa e Vila Nova Cachoeirinha. Mas admite a possibilidade de contaminação do solo, por isso deverá fazer estudos. A autarquia alega que não há contaminação de terrenos vizinhos aos dois cemitérios e tampouco casos semelhantes em outras regiões da cidade.
“O Serviço Funerário do Município de São Paulo já iniciou a elaboração técnica do edital para a contratação de empresa que irá realizar a análise do solo dos dois cemitérios, em conjunto com Cetesb e Secretaria do Verde e do Meio Ambiente. Até o fim do semestre, o Serviço Funerário vai iniciar esses trabalhos”, diz nota enviada pela Prefeitura.
Processo parado. Entretanto, processo para contratação de empresa para elaborar laudo sobre as condições ambientais dos dois cemitérios está aberto desde 2007. O processo para realização da licitação está parado desde 5 de novembro de 2009.
A demora levou a promotoria do Meio Ambiente do Ministério Público Estadual a cobrar agilidade. Em 1.º de março foi enviado ofício pedindo a reinstalação de poços de monitoramento do subsolo e coleta de amostras químicas e físicas em Vila Formosa e Vila Nova Cachoeirinha.
“O Serviço Funerário chegou a fazer investigação do solo em 2008, mas, durante os trabalhos, normas técnicas foram alteradas, o que criou a necessidade de novas investigações”, defende-se a Prefeitura. “Até o fim desta, não há como determinar ou especificar eventuais contaminantes.”
”O ideal seria cremar os corpos, é a solução sanitária para isso”
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100405/not_imp533763,0.php
ENTREVISTA
Lezíro Marques Silva
GEÓLOGO, MESTRE EM ENGENHARIA SANITÁRIA
Há alguma lei que determine prazo para que cemitérios façam o controle do subsolo e de possíveis contaminações?
Os cemitérios têm até 31 de dezembro para se adequar à Resolução n.º 335 do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente), que trata de dispositivos de segurança para monitorar o lençol freático. Há em vigência o Código Sanitário do Estado de São Paulo, normas e outras resoluções sobre o assunto. Mas cemitérios e poluição sempre foram assunto deixado de lado.
Há muitos cemitérios que poluem o solo com o necrochorume?
Cerca de 75% deles têm problemas de poluição ambiental e sanitária.
A poluição em Vila Formosa e em Vila Nova Cachoeirinha é grande?
Sim. Cada cadáver verte cerca de 200 mililitros de necrochorume por dia, que, se escaparem da sepultura, penetram no solo. Há alta carga tóxica e microbiológica, com vírus e bactérias. É só multiplicar o volume pelo número de sepulturas.
Há solução para evitar o vazamento desse líquido?
O ideal seria cremar os corpos. É a solução sanitária. Como não se pode impermeabilizar o fundo da sepultura, porque é preciso a troca de gases para ajudar na decomposição, pode-se usar um colchonete com um produto chamado necroblendas, que absorve o necrochorume. Também podem-se colocar saquinhos com esse produto, já fabricado em São Paulo e bastante utilizado na Europa, dentro do caixão antes do sepultamento.

Nenhum comentário:

Postar um comentário